Carne Em Promoção
Compra-me, diz um carro, o mesmo dizem uns saltos, toc toc,
só em hotéis de luxo, bonecas
De porcelana recheadas com leite azedo e mutante, tudo
cheira a interesse e cegueira, usados
Como novos, onde se terá que entregar a decência da
indecência sincera, tudo trancado em
Aparências hipócritas, custa sorrir com os dentes todos sem
um aparelho a medir caninos e
Aligeirar ângulos, número de contribuinte quer, com o hálito
ainda a escorrer algarismos do
Cliente regular, é que não tenho necessidades, tenho
exigências, criei classe na miséria,
Entretanto cresceram-me as carnes e posso alimentar-me de
trufas e champanhe, que nem
Gosto, mas é caro, e pouco me custa submeter-me aos desejos
do poder de papel, compra-me,
Uma indecência oferecer flores a monstros ilusionistas,
espera a barba ao Sol por mais um
Pouco de poder para o esquecimento, a vida acordada é
demasiado cara, mais vale parar, sair,
Dormir e ignorar quem caga de alto para os nossos ídolos e
deuses de pobre, faz cara séria
Que as hortas à beira de estrada sempre vazias e do tamanho de
mãos bem pagas com calos
E uma mesa com pouco mais de nada, compra-me e não me deixes
passar perto da miséria visível,
Eu mijo-te em cima, mas pinta-me com uns sapatos novos, toc
toc, veste-me com sonhos pequenos,
Sacos cheios de máscaras brilhantes, uma esperança para pôr
ao peito, que outra nunca vi, bom preço, toc toc.
21.05.2013
Viseu
João Bosco da Silva
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