Vomitar Antes De O Barco Parar
Perseguem-me os ecos das ruas escuras, percorridas no mais rigoroso Inverno possível
À civilização, as jogadoras de voleibol de dezanove anos, misturam-se com as sonhadoras
De terras pequenas e afogadas em tradição e hipocrisia engordada a hóstias e fumada a incenso,
Agora as jogadoras exigem dos seus santos maridos lenços do LV para limpar do canto da boca
O esperma que colheram entre caixotes do lixo, que entretanto azedou como o vinho que
Não coube mais na bebedeira, perseguem-se os olhares certos como pedidos sinceros,
Mas só o reflexo deles, na memória decapitada por recentes difamações circadianas,
Perde-se a conta às garrafas que consumiram o tédio, amordaçaram a vontade de incendiar
O Inferno com perversidade inocente e franca, do que se queixam os cadernos que amarelecem
Numa caligrafia sísmica, não o sei, até as amizades se cansam do cansaço dos outros, e o tempo,
Esse, persegue quando se torna fantasma, e naquele impossível de se trazer por crânio,
Que torna as noites tão pesadas quando não se tolera fechar todo o vazio dentro de casa
E sair para a companhia do incerto, quando é tão certo o que preenche o que falta para o infinito,
Nada mais me prende a nada, a não ser o desespero, a fome, a sede, tudo que se destila
Numa aguardente infinitamente inflamável e inflável, nem todas as pedras são levadas
Pelo vento, não as que matam cedo os sonhos ridículos de criança, nem as que levam
Ao passo fatal de mais um dia que será levado pelo resto dos dias, perseguem-me os ecos,
Mas estou trancado entre osso e osso, mudo, só me acompanha a inquietação de tudo
O que perdi, mas que afinal tive, para perder, quase tomo o Reis como o favorito deles todos,
Apesar de tudo, prefiro injectar o tédio até ao limite da tolerância, até aos dedos se resignarem
À guerra contra o passar lento do lixo limpo que se acumula nas ruas comerciais das cidades
Destes burros com maneiras de inglês, com diplomas escritos com lápis de cera em papel higiénico.
16-11-2013
Coimbra
João Bosco da Silva
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