quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A Sombra Da Anti-Matéria

Respeita a matéria negra, afinal de contas é ela
Que suporta o peso de toda a luz, dá também espaço
A estes poemas destilados da treva, do cheiro a salitre,
Da merda fermentada, do esperma bêbado em adro de igreja,
Ninguém vive sem cagar, mas passa-se sem se tomar banho,
Há purgas essenciais, da alma nada fica e só na vida
Tem que se arrastar este saco de tédio a que se chama
Imaculação, sem crucificação não haveria religião,
Respeita a matéria negra e o lado escuro da poesia,
Sem Rimbaud não haveriam tantos iluminados hoje,
Sem tantos iluminados, não haveriam tantas sombras,
Deixa apodrecer as flores, azedar o amor como o leite,
O sumo também fermenta, é mais natural, e não podes
Esconder que o que move os dedos, não é a vida,
Mas a consciência da grande sombra, ou também os ratos
Seriam poetas nas bibliotecas das faculdades de letras.

Coimbra

10-11-2013


João Bosco da Silva

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