quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Escatologia

Acredito na humanização dos santos e na salvação pela carne,
Acredito na necessidade do pecado para a manifestação da alma,
Acredito na morte eterna e na sua infinita justiça,
Acredito no poema rei qua nada julga e nada promete
E que virá trazer a memória aos olhos de quem lá se encontrar,
Num lugar comum separado por violências privadas e osso, olhos
Que se encontram na familiaridade do que levam para o lixo,
Acredito na liberdade do abandono da esperança e na força
Do desespero à beira da loucura sem regresso, limpa por fora,
Acredito e espero os amanheceres ébrios em comunhão com
As cinzas dos sonhos e na proximidade do equinócio do que se é,
Nu e sincero, longe das paredes da igreja e de toda a água benta
Com vestígios de esperma e outras contaminações humanas,
Demasiado humanas, oprimidas pela obrigação de um arrependimento,
Envergonhadas, porque é isso que nos separa deles,
A vergonha, um deus nunca se envergonha, acredita sempre
Que está certo, eu acredito na impressão dos seus segredos,
Na sublimação dos seus erros nos seus momentos possíveis,
Acredito no poema rei e nos sonhos que os dedos cospem acordados.

Coimbra

07-01-2014

João Bosco da Silva

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