Rimjobs E Buracos Negros
Somos tanto o mesmo, a mesma estrada a caminho da aldeia que
ficou por visitar
E todas as promessas mentidas, necessárias ao alívio e ao
consentimento da carne,
A consanguinidade atormenta tanto quanto atrai e fascina a
familiaridade do pecado
Em casa, o trigo pronto para ser ceifado e a curiosidade
verde longe do amadurecimento
Podre dos dias em que se é, e o mundo encerra-se num espaço
restrito entre suor
Excitado e o muco de segredos que toda a gente confessa e
limpa com hóstias
Coladas ao palato, desejando logo voltar a sujar-se com um
rimjob peludo,
Só o que passou interessa e é o que somos, o resto é
arrastar uma tentativa vã de
Romper com o limite do que se é e ser livre no
aprisionamento de um outro,
O futuro é apenas onde não se está, mora ao lado do desejo,
num fim de verão eterno,
Regressar à carne que um dia nos abençoou com a libertação
de nós próprios
Parece um traição injusta à memória, confrontá-la com as
medidas reais do que com
O tempo e a nostalgia tomou a forma de um sonho, mas que
fazer quando fechou
Aquele café nas nossas costas e ficou uma insatisfação verde
no regresso impossível,
Que fazer quando se torna impossível encontrar pedaços de
espelho nos livros que se lê
E tudo aborrece por repetição ou tolerância, que fazer
quando ardem as saudades
E se fica hipnotizado pelo fascínio da despersonalização das
chamas nas circunvoluções
Onde se escondem os sabores reais do que ficou perdido num
tempo por onde se passou,
É obrigatório morrer, como passar, o big bang não trouxe
nada de novo a não ser
A possibilidade de uma coisa de cada vez, em vez de tudo no
mesmo lugar ao mesmo tempo,
A nossa maldição é aprisionar pedaços de tempo num espaço
demasiado pequeno,
Dizem que os neurónios e as suas sinapses se assemelham a um
pequeno universo,
Não admira sentir-me tantas vezes perdido em estrelas
moribundas e buracos negros.
21-04-2014
Turku
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário