Espremer O Sumo
A polpa que sobra, é uma sensibilidade inversamente
proporcional
À resistência por motivação à virilha, uma sensibilidade à
paranoia
Induzida por sorrisos e outros sinais universais que se
tornam cada vez
Menos óbvios e indecifráveis, sabe cada vez melhor comer
sozinho,
Beber sozinho, já o aconselhava Jack, é uma golfada de ar
fresco
Entrar num bar deserto, num restaurante fora de horas,
Custa cada vez mais respirar profundamente, as noites
deixaram
De ser suficientemente escuras, a língua queimou-se demasiadas
vezes,
Lamberam-se também algumas lâminas com sangue seco,
A isso obriga quando os beijos se tornam secos, a polpa
azedou,
Já não está boa para lhe misturar bolachas maria, o sumo
Já se digeriu há muito e foi esquecido pela sede que matou,
Agora nem sede, nem vontade, só aquele cansaço encostado
À experiência, aquele já estive lá, mas noutro lugar, aquele
Já passei por isto de outra forma, tudo toma uma forma
familiar,
Os padrões aumentam com os anos e tudo parece ter uma ordem
Demasiado cruel, impossível fugir à passagem, às omissões
E às escolhas, tu espremido pelo pulso invencível do tempo.
Tallinn
13.10.2014
João Bosco da Silva
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