Reminiscências Natalícias Em Toalha Azul
Que tal vai por aí o tempo, ainda há tempestades vindas de
África,
E morrões de areia e esperma na praia dos encontros súbitos
das noites anteriores,
E esse Natal, como se passou sem a toalha azul a limpar a
barriguinha que ao contrário
Do esperado pela entropia e a natural fome humana, encolheu,
não pela contínua
Digestão de futuros esquecidos em pequenas mortes, o meu
digo-te,
Já foi pior, com duas formas de cozinhar bacalhau em forma
de solidão vingada
No degelo ao pé do aeródromo quase escondido do Google map,
A vida tornou-se em algo muito estranho para quem não fez
mais nada
Dela a não ser vivê-la, as certezas agora muito menos que há
uns dez,
Cinco anos atrás, a areia parece que acelera e deixei quase
tudo o que faz mal,
Agora quase que sou um exemplo, num canto, onde ninguém quer
pecar,
Que boa pessoa se é quando a felicidade não se nota na noite
curta da existência
Dos outros, passar silenciosamente, uma raposa sem rabo a
enlouquecer
Entre uma rede e outra, devias lembrar-te de mim, ao menos
no Natal,
Afinal de contas estavas armada em Pai Natal e
perguntavas-me o que queria,
Eu como sempre, isso ainda não perdi, estava bem com o que
de ti me envolvia,
Nunca me queixei muito, em vez disso poesia, que incomoda só
aqueles
Que em vez de fazerem poesia da vida querem fazer vida da
poesia,
Deviam acreditar em quem raramente faz a barba e passa fome
por
Ou sem obrigação, apesar de a neve ter substituído a areia e
a possibilidade
Do contágio ter sido substituído pelo contágio confirmado dos
outros,
Isto continua a ser um poema sobre o Natal, os universos
sobem e descem neste
Mesmo, e deve haver um onde o tempo, tempo, tempo, o mesmo,
Com vinte e cinco graus ressacados na manhã de Natal, com os
tomates
Vazios, ou menos cheios, em direcção ao futuro, a este poema
longínquo.
Turku
25.12.2014
João Bosco da Silva
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