Impressões Sobre O Vermelho
Tem que se inspirar bem fundo antes de se mergulhar na nata
ex-soviética, suster
O olhar, ignorar a decadência, a negligência, o vandalismo
típico dos cancros,
Até se passar pela biblioteca, atravessar a ponte e finalmente
entrar no esforço
De liftings e reconstruções de maxilares mal tratados por
tantos impérios,
Olha-se para o passado com aquela nostalgia impossível e
reconstrói-se a destruição
Sofrida na última grande guerra, como se as outras pequenas,
e pergunto-me se
A fria não terá degradado mais ao longo das décadas sem
morteiros, os porcos
Ainda por todo o lado, nas igrejas de lenço na cabeça perguntam
se também,
Não, nada disso, o Neva mais além, agora há fronteiras entre
cá e lá, será que sabem,
Nas igrejas adivinha-se explosões lá fora, de um lado com
vidros sem com
Enquanto que do outro, ainda alguns vitrais coloridos, ou
talvez o vento,
Uma tempestade, há uma estranha simpatia forçada nas
mulheres, o mesmo
Amor ao bisonte e aos vidros fumados, o olhar num ponto das
calças que não é bem
O que se quer, talvez só o frio, no fim tudo são trocos, o
agradecimento nunca
Baixou calças a ninguém, contudo, fica sempre bem, além da
ponte fica a cara de manhã,
Fica a cama à espera de quem lava os pratos, fica o
pesadelo, o frio, as recordações de medo,
Falar a língua com que se pensa, só em casa, ou talvez não,
as ruínas levaram muitas camadas
Nestes últimos anos, parece que a cidade está a levar
transfusões desde o coração,
Há cor, o gigante distrai-se com os antigos desastres, há
vergonhas que se insistem em reviver
Até se tornarem orgulho, lá longe neva no Neva, aqui estás
muito bem sem eles.
Riga
13.02.2015
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário