Ronco III
“flowers stink beauty
rots gods die”
al purdy
Os olhos já não me perguntam, o que te falta fazer, perguntam-me,
o que te faltou fazer,
E o cabelo anui, confirmando o que os anos redondos levam,
os fantasmas decidem,
Depois de anos de silêncio, abrir os lábios carnudos, para
anunciarem a absolvição
Dos seus hábitos canibais, a glória redentora, a passagem da
estafeta do pecado tão
Pouco original, como que dizem, não soubeste fazer mais nada
a não ser cornos, olha agora
O que os cornudos sabem fazer, de certo não lhes engoliram
as probabilidades,
A festa acabou há tanto tempo, já se levantaram muitas
feiras e as calças brancas a estas horas
Já nem devem servir, ou não se baixam com a mesma pressa até
às coxas e um alívio quase
Dentro, atirado para o silvado ao lado, aqueles lábios a
brilhar ao luar, ou se calhar só
A cerveja a fermentar, os mesmos lábios no cemitério, aquela
surpresa nos dedos,
Dançando como as chamas das velhas, escorregadios, que
beleza haverá nisto tudo,
Que lição e para quê, se no fim se rasgam, se apagam, secam,
e até os olhos estranhos,
Como as glórias absolvidoras do canibalismo das calças
brancas, a sua sede de joelhos
No chão na hora em que os sonhos morrem e fica apenas o
cheiro entranhado no hipocampo.
Riga
14.02.2015
João Bosco da Silva
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