Ensaio Sobre O Ridículo De Durar
Que vais fazer agora que todas dormem nos braços de alguém
com alguém novo nos braços,
Se és do tamanho de tudo o que perdeste, és enorme, agora
numa mão, seguras apenas
O esquecimento, na outra tudo o que poderias ter
conquistado, rei do agora e já,
De ti mesmo, só, cansado, cheio do vazio dos outros, lutando
contra as memórias que se vão,
Incapaz de impedir o amarelecimento dos dentes e o
empalidecer do cabelo, aprisionado
Entre folhas de papel e tinta preta o pouco que te ficou de
quem fez de ti quem és e mais
Do que isso, o que és, agora aperta com força o esquecimento
antes que arrefeça, o vazio,
Pode ser que consigas sangrar na lembrança de alguém, pode
ser que ressuscites nos sonhos
De alguém, ou à beira do rio num dia de aniversário, ou num
grão de areia num lábio irritado,
Ou numa almofada numa manhã de Natal quente, quanto muito no
sabor de uma tosta-mista
Com os vidros do carro embaciados, que vais fazer agora que
todos os sonhos cresceram
E se tornaram ou ridículos ou impossíveis, agora que engoles
o esquecimento e naufragas.
Turku
20.05.2015
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário