Na Sauna
Na sauna um encontra-se com ele mesmo, como numa câmara de
energia orgone,
Sente-se a energia universal a subir, a tomar conta do corpo
e nada melhor para
O desmame da vida pesada, está-se em comunhão com a própria
gaita,
Em mais nenhuma ocasião se está tanto tempo a olhar para
ela,
Sente-se orgulho e vergonha dependendo da companhia,
sente-se até inveja,
Já esteve em países que nunca visitei, entrou em carne cujas
almas nunca conheci
Realmente, nem compreendi, foi mais tantas vezes, fez gemer,
fez perder universos,
Ameaçou a criança de uns quantos, há sempre um lugar para
todos, e o tamanho
De uns não influência o dos outros, não há que se sentir
ameaçado, só o ego
É susceptível a ameaças territoriais, há galhos para todos
se o ego não for muito pesado,
Na sauna com William Burroughs com a colher de madeira na
mão a contar como o mundo
É mais estranho que qualquer capítulo que lhe saiu dos
dedos, as rugas sentem-se
Vir, quantas vezes nos vimos numa vida e quantas fazemos
vir, retrai-se o prepúcio
Como na primeira vez, com a mesma inocência curiosa, e os
dedos outros viajantes
De almas e carnes, os dedos que provam tudo, sangue que
estranhamente espesso
E gorduroso, merda que às vezes granulosa, e se os olhos
fechados aqueles lábios
Enormes, impossíveis, um desfolhar infinito em busca do
centro de tudo, da resposta
De boca aberta e olhos perdidos, os dedos que entram tanto
dentro como fora,
Que abrem sem tocar, que traduzem as loucuras que os olhos
só prometem,
Que seguram a colher e atiram água nas pedras rojas, o ar
torna-se quase insuportável,
Como quando o orgasmo se aproxima e nos diz, que se foda,
vem-te, e sobe,
Respira-se o vapor quente a penetrar até aos alvéolos mais
profundos, roça com a alma,
Sente-se no cu ensaboado, um quase desconhecido que se torna
tão presente e familiar,
Na sauna aliviamos aquela saudade primordial, reencontramos
a nossa primeira companhia
Num útero de madeira, pedras escaldantes, humidade quente e a
nossa carne nua.
Turku
24.07.2015
João Bosco da Silva
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