Excerto Do Livro Dos Mortos
Mr Mojo Risin
O sake e os doors têm em comum um poema, a tatuagem de uma
cobra,
Geadas cortadas com o calor do sangue inebriado e a loucura
do fim da inocência,
Tudo trazido para o espaço de um quarto alugado na memória,
Com a luz pobre da freguesia silenciosa a entrar pelos
buracos da persiana,
Gatos saltam dos muros para nos atravessarem com a sua
presença,
Ela ajoelha-se nos lençóis sujos e adora a cobra brilhante
no luar artificial,
Os ombros sibilam e contorcem-se em formas contagiosas,
As paredes ecoam fracassos vingados no risco da carne, tudo
acaba
Em três suspiros, a gangrena atravessa desertos frios e o
mar
Apenas uma janela de autocarro evocando o distante para
justificar
A derrota próxima, não compreendem a raiva, não compreendo
Ovelhas assassinas, o pulso calmo na hora da morte, o
coração
Nas paredes, cavalgando todo o desespero acumulado, uma
vingança
Empurrada com goles, saliva e o gosto das entranhas
possíveis,
Um poema, entre acidentes esperados e contaminações
prováveis,
Um poema, entre o vibrar impossível dos cristais de gelo na
roupa
Que se deixou a secar, esperando o sol da tarde, um poema,
Como todos os fins poemas, todos lápides talhadas de carne e
desejo,
Defuntos que assombram na esperança de um corpo que os seja,
Até que se termina, se acorda, e já não se está no quarto
alugado,
Em comum só a noite, com uma escuridão antiga, a geada algo
Que se esconde em camadas de sonhos árticos, esperando
Outros degelos, o poema, sempre o último barco de cristal na
tempestade.
19.11.2015
Turku
João Bosco da Silva
Poema lido por Nil Kremer: https://soundcloud.com/caminhante-harm-nico/excerto-do-livro-dos-mortos-jo
Poema lido por Nil Kremer: https://soundcloud.com/caminhante-harm-nico/excerto-do-livro-dos-mortos-jo
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