ao Jack,
Da santíssima trindade serei sempre aquela gaivota, lá no
topo do edifício
A olhar as gente que sai, bêbada, sorridente a cair das
escadas e não é nada
Com a cabeça a sangrar levados pelos braços de um amigo,
Aquelas miúdas quase maduras a serem levadas pela mão ou
pelo pé
De quem querem, a malícia de quem tem mais fome na vontade
Do que aquilo que realmente sabem e podem comer,
Serei sempre o de sorriso nos lábios, com esperança na
música
Que salva a multidão, na tarte com gelado que salva a fome,
E somos tão simples e custa tão pouco um momento de
felicidade
Para iluminar todos os dias escuros, serei sempre o que
caminha,
Sempre, atravessando a vida, sorrindo porque ela ainda
existe
Contra toda a morte, sem medo, apesar do medo, serei sempre
O bêbado feliz enquanto bêbado, quando longe da cabana,
Do delirium tremens, das garrafas vazias, dos burros mortos,
Do Big Sur, enquanto houver música nas ruas que engulam
Os tiros da noite passada, acreditarei, que somos humanos
Ainda, que seremos seja o que a madrugada nos trouxer,
E os monstros morrem lavados pelo sangue dos inocentes,
E a gaivota voa, voa e leva o fascínio por aqueles animais
Condenados a um passo de cada vez, serei sempre o Kerouac
Da santíssima trindade, caminhando com um sorriso, bêbado,
Iluminado pela carne cheia de sonhos, de desejos,
de vida.
24.07.2016
Turku
João Bosco da Silva
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