sábado, 4 de fevereiro de 2017

Melancolia

Lambo da chávena uma gota de café que escorre, parece-me impossível
Que ainda há minutos acordava só naquele quarto escuro,
Apagando sonhos e um poema que estava a nascer-me sem dedos ou papel,
Devia ter posto mais açúcar, já me tem amargado a vida o suficiente,
Cada vez que corro a cortina, sei que é cada vez mas certo um cogumelo
Armado em Sol que o próprio, cada vez é mais raro encontrar-me num livro
Ou ler um livro que me encontre, apesar de tudo não esqueci tantos
Quantos me esqueceram a mim, tento não deixar escorrer nada para a mesa,
Mas no fim é o que restará de nós, o que deixamos cair, o que ficou por lamber,
Nunca um sonho onde se cravaram os dedos até se acordar com as mãos cheias
De almofada, um poema que só a imagem dos versos se lembra e nem uma palavra,
Como é que no sonho, sem pernas vamos mais longe, sem mãos agarramos o que queremos,
Sem dentes mordemos mais fundo, e acordados a língua mal acompanha
Umas gotas amargas de café que arrefece mais rápido que os lençóis.

04.02.2017

Turku


João Bosco da Silva

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