Radiografia À Porta Da Cagadeira
O que esperas aí sentado nesse bar de imitação de
apocalipse, não o de João,
O que a maioria de idiotas que têm poder, porque maiores
idiotas lho atribuíram,
Andam a preparar, que fazes enquanto os heróis de infância,
imortais na altura
Como os avôs e os amigos, morrem para encher bolsos e falta
de imaginação,
O que esperas enquanto o esperma que nunca te morou nos
tomates
Seca na pele em que um dia foste dentro, a bebida te aquece
e a alma que deixaste
Há meia vida, te arrefece, não esperas o nascer do Sol, esse
nasce só em sonhos
E nas memórias de sombras em três dimensões, então é o quê,
O copo vazio e o coração cheio de sangue saturado, um tronco
amigo
No monte calcinado pelas ambições pastoras, a coragem de um
ponto final honrado,
Se ao menos o mundo todo se desligasse com uns olhos
fechados,
Esperas a foto de um filho que nunca geraste à beira do rio,
no aeródromo abandonado,
No mar Báltico sueco, esperas o eco da resignação, a
promessa que ficou naquela pele
Que agora enruga com os dias, na verdade não esperas nada,
queimas,
Como os velhos à sombra encostados às paredes caiadas,
Queimas as páginas que vomitaste, os sonhos que tiveste que
rasgar, o amor que azedou
E deixas-te ir até os olhos desencontrados se apagarem
definitivamente.
Turku
03.03.2017
João Bosco da Silva
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