A Chester Bennington
No ar de Agosto havia aquela cheiro familiar à anormalidade
dos incêndios,
Fazia parte do verão como os escorpiões na escadas, a música
ruim nas ruas,
Que se entranhava na alma esponjosa mais facilmente que
poemas imortais,
Havia a interior promessa de beijos roubados e o cheiro a
perfume na palidez
Do sotaque francês, havia a longa caminhada seguida por
incenso
Empunhando uma cruz metálica mais pesada do que os pecados
cometidos
Entre as cuecas e a vontade das garotas que iam dormir lá em
casa em noites de luar,
Havia todo o tempo do mundo, para tudo, as mãos ainda com
espaço suficiente
Para agarrar quase o mundo todo e o coração cheio das
certezas que nos ensinaram,
No entanto, deixou-se cair a cruz, os lábios que se
humedeciam na língua
Não aqueles que a fome pedia, as certezas trocaram-se pela
verdade do vazio,
O mundo tornou-se num castelo de cartas num vendaval, procuraram-se
As perdições alheias em páginas que dificilmente se
encontravam em terra de brutos,
No espelho tomou forma uma presença que sendo tudo, não era
nada,
A morte derrubou as torres do grande império e os reis
começaram a injectar medo
Nos peões do tabuleiro, surgiu o poema, o vestido, o muro
de pedra, caíram amizades,
Cresceram as dioptrias, os dióspiros ainda longe de maduros,
tudo se tentou
Nas noites de insónia, sem mover um músculo, enquanto os
grilos na rua
Semeavam o gosto futuro por filmes a preto e branco
japoneses,
Nisto uma presença gritante, sempre, naquele quarto escuro e
fresco,
Enquanto um mundo ardia e outro se desmoronava, alguém
gritava o que as noites
Cobriam de escuridão, alguém que afogando-se em si mesmo,
era uma mão,
Alguém que acabou por deixar de tentar acabar o castelo de
cartas num vendaval
E se pendurou, alma e tudo, levando com ele uma parte de
todos os desconhecidos que tocou.
24.07.2017
Turku
João Bosco da Silva
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