Sala De Espera
Quando é que os dias se tornaram numa sala de espera
bafienta, escura,
Com mobília dos anos 70, onde zumbe já faminto o caruncho
dos ossos,
Esperando que a porta se lhes abra e seja chamado o nome
À consulta kármica, para se receber um frasquinho com meia
dúzia de dias felizes,
Depois deste volte cá e espere, a porta da rua está sempre
aberta,
E lá fora ninguém, nada, a saída definitiva para um dia
infinito e vazio,
Quando é que todas as revistas se tornaram sobre vidas desinteressantes,
Como espelhos ou então exemplos de todos os fracassos que se
acumularam
Em nome de te tornares no que hoje és, algo afundado num
sofá
Com as mãos sobre os joelhos, procurando encontrar em que
linha te despistaste,
Como quem perdido num dia de chuva, procura encontrar o
caminho
De volta, com um mapa ao contrário de uma outra cidade,
Quando é que surgiu esta vontade de saltar por cima de
bocados enormes de vida,
Estações inteiras, companhias decentes, a fruta quase toda
para o lixo
Na esperança de uma gota destilada de um Sol que se sinta
tocar
Algo que enterramos há muito, bem fundo, só porque não se
sabia, como nada se sabe
E por cima de toda a ignorância, erguemos este castelo de
certezas e esperamos.
23-07-2017
Turku
João Bosco da Silva
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