Primavera Paris Verão
Primavera
Muito tarda
o canto do cuco
em chegar ao norte.
A gengiva sangra
o sangue cospe-se
o dente fica.
É disto que te
estava a falar –
então acordo.
Não há adubo
que salve
a planta que secou.
Uma motosserra vizinha
e o meu pai
mais perto.
Seu mundo verde
e o meu
de distância.
A noite apaga-nos
os sorrisos –
que luz nos resta?
Não sorrias como se a noite
não te espere
no fim do dia.
Precisamos uma loucura
que nos salve
desta vida.
Eles regressam
a casa –
faço disto o meu mundo.
Só há verdadeira
paz
no cansaço.
São o lugar comum
que nos resta –
os sonhos.
Paris
A vinha de Montmartre
e um copo de vinho
ao Sol.
O verde antes
do palácio
satura os sentidos.
Salta a rolha
da garrafa de champanhe –
cabeça real no cesto.
Tosse o verde
cansado
de tanta pressa.
Verão
Tão pouco reino
para tanta
rainha e princesa.
Nas asas de uma borboleta
apenas pó
colorido.
Afogado em verde
o cavalo
não liga à solidão.
Verão no calendário –
pingos na lata
do coração.
Uma interrupção
consciente
na eternidade.
Chove nos paralelos
quentes –
gasta-se a vida.
Tanta água
nos passou
nas mãos vazias.
Vão e vêm
as ondas
do mesmo sangue.
Fecham-se portas –
novas flores
nascerão.
Na areia a pegada
apaga-se –
quem me recorda?
O Inverno
tão certo
como o esquecimento.
A felicidade –
isto com uma erva
na boca.
Riscar areia
com um pau seco –
poesia.
Turku-Paris-Helsínquia-Savonlinna
Maio – Julho 2017
João Bosco da Silva
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