E Agora Quê?
E agora
quê, essa carne toda, quantos suspiros, quantos olhos fechados
Apertando
miséria, quandos tiros no escuro a ver se caías na rede
Das fomes
alheias, esses sonhos todos largados dessas mãos lívidas,
As unhas
não crescerão mais, a carne é que seca, encolhe, os vivos
Continuam a
crer nas ilusões que quiserem, menos essa carne que alimenta
Vermes como
desejos, nunca mais as lágrimas serão tuas,
Nas dos
outros apenas uma imagem de ti, nunca verdadeiramente tu,
E agora
quê, esse sangue que tantas vezes insuportavelmente quente,
Essa pele
que agora nada mais que cera amassada em cinza e eternidade,
Uma
eternidade real, longe da que se canta ao lado do amor,
Esse que
seca mais rápido que o sangue ou as lágrimas,
E agora
quê, que nada mais vale a pena, nada mais valerá a pena,
Que não beberás
da dor que fica nos outros, mas que também passa,
E agora
quê, depois desse último grito quando ninguém estava.
Turku
30.09.2017
João Bosco
da Silva
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