segunda-feira, 16 de outubro de 2017


E Agora Quê?



E agora quê, essa carne toda, quantos suspiros, quantos olhos fechados

Apertando miséria, quandos tiros no escuro a ver se caías na rede

Das fomes alheias, esses sonhos todos largados dessas mãos lívidas,

As unhas não crescerão mais, a carne é que seca, encolhe, os vivos

Continuam a crer nas ilusões que quiserem, menos essa carne que alimenta

Vermes como desejos, nunca mais as lágrimas serão tuas,

Nas dos outros apenas uma imagem de ti, nunca verdadeiramente tu,

E agora quê, esse sangue que tantas vezes insuportavelmente quente,

Essa pele que agora nada mais que cera amassada em cinza e eternidade,

Uma eternidade real, longe da que se canta ao lado do amor,

Esse que seca mais rápido que o sangue ou as lágrimas,

E agora quê, que nada mais vale a pena, nada mais valerá a pena,

Que não beberás da dor que fica nos outros, mas que também passa,

E agora quê, depois desse último grito quando ninguém estava.



Turku



30.09.2017


João Bosco da Silva

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