quinta-feira, 19 de outubro de 2017



Dizer Tudo



Podia falar-te da fome a que me obrigo por sono, cansaço, preguiça,

Pelas mão cheias do Sol que partiu, que parte sempre e fica

Na pele apenas a ilusão de um beijo que foi apenas uma promessa

Vazia para algo mais, uma queda de alma abaixo, uma mancha

Que cresce onde nunca permanecerás, na fronteira entre deus e nós,

Podia falar-te da fartura, dos dentes cariados e das noites à beira

Da avalanche, da esgrima entre o medo e o desejo cego mas consciente,

Das mãos certas para a derrota que procuras em fios de ouro

Perdidos em noites solitárias que o luar não pinta da cor que merecem,

Podia falar-te dos dias que te guardo e que são todos os que não viverei,

Mas prefiro olhar-te e decorar o vortex da tua íris no último olhar

E dizer-te o contrário do que vejo quando me perguntas quê e te respondo Nada.



Turku



16.10.2017



João Bosco da Silva

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