Fome
Com o tempo perde-se a fome, não a que mata, a fome dos vivos,
A que às vezes nos visita em sonhos, de estômago cheio
E as mãos da alma vazias de estrelas, apenas fogos fátuos de outros verões,
Ninguém doente, os mortos todos uns desconhecidos,
Com fotografias de quando nós, nem nós ainda, antes da fome,
A que se perde, ganha-se sede, como quem engole desertos
Para apagar solidões, por mais um verso que arranque um púbico
Que seja à inocência dos momentos em que alguém foi nosso
Quanto a ilusão permitiu, um cigarro fumado a meias
Antes do esperma cristalizar na pele familiar no toque e estranha no país,
Uma garrafa acabada numa explosão de facetas manchadas de batom,
Tudo se perde, até a utilidade do vazio, a vontade dos sonhos, a fome que alimenta os vivos.
13/09/2017
Turku
João Bosco da Silva
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