sábado, 11 de novembro de 2017

Fome 

Com o tempo perde-se a fome, não a que mata, a fome dos vivos, 
A que às vezes nos visita em sonhos, de estômago cheio 
E as mãos da alma vazias de estrelas, apenas fogos fátuos de outros verões, 
Ninguém doente, os mortos todos uns desconhecidos, 
Com fotografias de quando nós, nem nós ainda, antes da fome, 
A que se perde, ganha-se sede, como quem engole desertos 
Para apagar solidões, por mais um verso que arranque um púbico 
Que seja à inocência dos momentos em que alguém foi nosso 
Quanto a ilusão permitiu, um cigarro fumado a meias 
Antes do esperma cristalizar na pele familiar no toque e estranha no país, 
Uma garrafa acabada numa explosão de facetas manchadas de batom, 
Tudo se perde, até a utilidade do vazio, a vontade dos sonhos, a fome que alimenta os vivos. 

13/09/2017 

Turku 

João Bosco da Silva 

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