Ensaio Sobre A Entropia
O que fazer quando tudo ardeu e da infância restam apenas a felicidade em carvão
E os dias lentos que cristalizaram com o esquecimento das lágrimas à flor da cal,
O que fazer quando até o musgo secou e apenas nos joelhos a recordação
De uma curva mal feita num caminho rural dum Verão de água-oxigenada
E sonhos com perfume francês barato na casa da velha vizinha,
O que fazer quando todas as cartas de amor se varreram para debaixo dum tapete
Que há muito apodreceu com a amizade que se vestiu de distância e outras proximidades,
O que fazer com todos os copos vazios e os esquecimentos que patrocinaram
Para aquecer mais um Inverno indesejado até ao seu fim sem lareira ponderável,
Nenhum verso longo será capaz de desenterrar os sonhos que os anos apagaram
Ou tornaram em vergonhas que rodeiam os olhos e sementes de barba branca,
O que fazer quando a tinta acaba e se chega a casa cheio de tudo menos daquilo
Que um dia se achou eu, deixa-te ficar mais um pouco, as chamas ainda mal lamberam
A tua pele, ainda estão longe os ossos, alguém os lembrará com lágrimas
Ou arrependimento, salta antes que a ponte se desmorone, toda a queda é fácil.
12.11.2017
Turku
João Bosco da Silva
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