Dormem os cavalos
nas estepes -
esqueceu-se o medo.1
Escorre por entre os dedos
a areia dourada -
goza a queda.
Depois do Verão
regressam
a palidez e a escuridão.
Tem que chegar o Outono
para a folha
poder viajar.
A fruta que apodreceu
à sombra
cumpriu com a doçura.
Nar´yan-Mar
tão desconhecida
quanto o vermelho próximo.
Escrevo da Sibéria -
distância e frio
em vez de palavras.
Cresce-se -
prémios tornam-se
como aniversários.
Conseguir ser só
num país de solidão -
o absoluto.
Da violência
nascem impérios -
só eles terminam.
Da violência
nascem impérios -
só ela persiste.
A neblina cobre
as estepes -
acende-se o horizonte.2
Sabes-me ao nevoeiro
de Novembro
no campo geado.
O Mestre disse -
não é a distância
mas a ausência.
Olha a Lua -
os meus olhos
os teus.
Podias construir
um império no coração
mas não.
Um último salto
da ponte -
todas as vezes.
Um vizinho
louco -
quem não?
Ter a pele salpicada
com a ausência
dos teus lábios.
Dos antigos
nem uma memória
dos seus olhos.
À estrada do hotel
despedidas
e esquecimento imediato.
Quantos olhos
as mesmas
Histórias.
Montanhas de sonhos
e tantos outros
abismos.
Esse ponto de encontro
da humanidade -
a miséria.
Nada está completamente
perdido
se houver dor.
Na dor
a certeza
da possibilidade.
E quando as cinzas
arrefecem
e se continua vivo?
Tudo oxida
mesmo
em segredo.
Facilmente as mãos
se esquecem
de ser vazias.
Leva-se sempre
a montanha
para as distâncias.
Habitua-te
ao amargo -
o Verão é breve.
Estranha o ar pesado
aquele que veio
da montanha.
Sobre o musgo
sempre
em casa.
Descer do monte
reparar
que anoiteceu.
Encher vazios
antes
do vazio.
Ar-Seul
Outubro-Novembro 2017
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário