Dia De Chuva Em Rivendell
Nos dias de chuva no Verão, regresso sempre a Rivendell,
Sentado no chão perto da janela, no quarto ainda quente,
Ignorando todas as distâncias que sem semear,
Acabaria por colher, página a página, adiando encontros
Nas escadas da junta e os poucos tangos possíveis,
Embalado pela voz doce de uma irlandesa
Num álbum pirata, as palavras escorrendo como a chuva
Na janela dos meus olhos, que tanto perderão
Quando os dedos não provam a verdade dos lábios mais sinceros,
Naquele quarto pequeno, com as paredes semeadas
Com vergonha no Inverno, em direção à salvação
Na distância, na destruição, nas terras escuras,
Nas noites longas com sabor a inferno gelado
E cigarros que pareciam impossíveis e ridículos,
Quando chove neste futuro inesperado,
Que é afinal o presente que me contém,
Ainda me estranho e sonho com acordar em Rivendell,
Rodeado pelos amigos que já me esqueceram,
Acho que só esta chuva, mesmo caindo de um céu
Que não é o meu, me reconhece o espaço
Que a esperança ocupou nos meus olhos.
Turku
05.06.2018
João Bosco da Silva
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