Deixa-te Ficar Antes Do Esquecimento
Dizem que fugiu para uma aldeia do sul de França com uma mulher casada,
Tinha-a deixado há meia vida atrás, como aos chás do Em Busca do Tempo Perdido,
Agora passa as manhãs à espera do pão quente enquanto arrefece na cama
A dor de cabeça do vinho da noite anterior, passa as tardes a contar os barcos
Que regressam como as memórias de tudo o que deixou por aquele horizonte,
Com o mesmo livro ao colo, à espera do regresso daquele vestido florido,
Pedalando o brilho da maresia, não é infeliz e isso basta-lhe,
O que ficou por fazer noutros mundos, noutras vidas, não era para o que se tornou,
Dizem que não faz mais nada a não ser plantar papéis gatafunhados debaixo
Da macieira no jardim que às vezes cuida, às vezes a sorte cuida,
Têm um gato tão inútil quanto ele, tão sábio quanto ela,
Dizem que a coisa não irá durar como sempre, mas ele continua a contar as estrelas,
Com ela, embalados por mil grilos, o mar que devolve os sonhos esquecidos,
Aprenderam a abraçar-se com silêncio, também há amor quando se espera.
10.03.2019
Turku
João Bosco da Silva
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