Na Cama Com Nietzsche
Na verdade, de Nietzsche pouco ficou, só o fim dos Domingos de manhã
E a consagração dos meus dezasseis anos, a poesia tornou-se nisto,
Uma teia sem aranha, numa casa onde ninguém as moscas incomodam,
A cristalização inútil daquilo pelo qual a inocência foi sacrificada,
Cada verso a distância de uma pena de pavão transplantada,
Tudo tão original quanto a raiz quadrada, cúbica, quântica,
Do que se vai comendo por nomes, a copia da copia da copia,
Como a felicidade da insónia à beira da agonia de uma solidão sifílica,
Faz falta respirar no frio, mas todas as noites se tornaram tão vazias
Quanto o sono, pensas que te encontrarás naquela doçura de adolescente perdido,
Se pegares novamente no bigode do martelo, nunca voltará a ser a primeira vez
A não ser a última, a vida, a poesia, o que anima, sabe ao último cigarro
Da noite, em que não se fez nada mais que fumar os minutos
E esperar pelo próximo, cada vez mais vazio que o anterior,
Nada mais te salvará de ti próprio, especialmente quando te tornaste
Num domador de cemitérios interiores, um trapezista de abismos abandonados.
Turku
08.09.2019
João Bosco da Silva
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