domingo, 8 de setembro de 2019

Na Cama Com Nietzsche 

Na verdade, de Nietzsche pouco ficou, só o fim dos Domingos de manhã 
E a consagração dos meus dezasseis anos, a poesia tornou-se nisto, 
Uma teia sem aranha, numa casa onde ninguém as moscas incomodam, 
A cristalização inútil daquilo pelo qual a inocência foi sacrificada, 
Cada verso a distância de uma pena de pavão transplantada, 
Tudo tão original quanto a raiz quadrada, cúbica, quântica, 
Do que se vai comendo por nomes, a copia da copia da copia, 
Como a felicidade da insónia à beira da agonia de uma solidão sifílica, 
Faz falta respirar no frio, mas todas as noites se tornaram tão vazias 
Quanto o sono, pensas que te encontrarás naquela doçura de adolescente perdido, 
Se pegares novamente no bigode do martelo, nunca voltará a ser a primeira vez 
A não ser a última, a vida, a poesia, o que anima, sabe ao último cigarro 
Da noite, em que não se fez nada mais que fumar os minutos 
E esperar pelo próximo, cada vez mais vazio que o anterior, 
Nada mais te salvará de ti próprio, especialmente quando te tornaste 
Num domador de cemitérios interiores, um trapezista de abismos abandonados. 

Turku 

08.09.2019 

João Bosco da Silva 

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