Poema Derrotado
À tua frente a possibilidade do melhor poema,
Porque da vida já pouco esperas, é só pousar os dedos
Na ordem certa, mas o que os move é a mesma lesma
Que passou, só a certeza brilhante daquele visco seco,
Nas ervas do caminho outonal, nada resta dos bagos
Dos verões passados, nada há a destilar a não ser
O ódio e o vazio, o amor é um vinagre com que
De manhã se lava a boca do gosto dos sonhos
Ridículos que se vão pegando às manchas da almofada,
À tua frente um espelho, velho, sujo, que come mais luz
Do que a que reflecte, o poema possível a quem sacudiu
Amigos com o tempo e ficou na companhia do pó
E do cansaço que mil sonos não curam, a certeza silenciosa
De todos os sorrisos azedos, sob os dedos que não tocam,
Passam, deixam a despedida das moscas antes dos dias frios.
14.10.2019
Turku
João Bosco da Silva
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