Primeiro Beijo
Foi no cemitério da terra o nosso primeiro beijo, uma
promessa de perdição,
Há eternidades de lábios cheios de ilusão mais breves que
certas madrugadas,
Há pontes cheias nos olhos dos outros, onde passou um mundo
inteiro de dois,
Absorvidos ambos pela fome de um quarto escuro onde lateje livremente
a carne,
Foi assim, durou pouco, ainda te trago dentro na primavera,
ainda te trago dentro
Neste cansaço que sou, a água daquele rio que testemunhou a
vontade de dentro de ti,
O rio ainda passa, houve muitos amanheceres, nunca aquele
beijo antes de ires trabalhar,
Que foi o último, apesar da fonte gelada anos mais tarde,
estavas como eu,
Prometida ao aborrecimento, à obrigação da corrente pela
qual no deixamos levar,
Por comodidade e depois se torna vontade, ou lava-nos o que
a vontade foi,
Seremos amados ainda, fomos amados, a carne sempre foi
sincera,
E é verdade quando te digo que quase morri, olhando-te nos
olhos,
Enquanto entrava em ti, estrangulado pela impossibilidade de
um futuro
E me vim contra a promessa dos inibidores da recaptação de
serotonina,
Somos belas ruínas neste novo amanhecer, haja quem se beije
no nosso silêncio.
Turku
29.05.2020
João Bosco da Silva
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