sexta-feira, 29 de maio de 2020


Primeiro Beijo

Foi no cemitério da terra o nosso primeiro beijo, uma promessa de perdição,
Há eternidades de lábios cheios de ilusão mais breves que certas madrugadas,
Há pontes cheias nos olhos dos outros, onde passou um mundo inteiro de dois,
Absorvidos ambos pela fome de um quarto escuro onde lateje livremente a carne,
Foi assim, durou pouco, ainda te trago dentro na primavera, ainda te trago dentro
Neste cansaço que sou, a água daquele rio que testemunhou a vontade de dentro de ti,
O rio ainda passa, houve muitos amanheceres, nunca aquele beijo antes de ires trabalhar,
Que foi o último, apesar da fonte gelada anos mais tarde, estavas como eu,
Prometida ao aborrecimento, à obrigação da corrente pela qual no deixamos levar,
Por comodidade e depois se torna vontade, ou lava-nos o que a vontade foi,
Seremos amados ainda, fomos amados, a carne sempre foi sincera,
E é verdade quando te digo que quase morri, olhando-te nos olhos,
Enquanto entrava em ti, estrangulado pela impossibilidade de um futuro
E me vim contra a promessa dos inibidores da recaptação de serotonina,
Somos belas ruínas neste novo amanhecer, haja quem se beije no nosso silêncio.

Turku

29.05.2020

João Bosco da Silva

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