Quarto Vazio
Nunca fui tão só numa casa vazia, como naquela da Rua do Almada,
As prostitutas patrulhavam os passeios sujos, os paralelos
partiam
As montras de madrugada por uma fome endovenosa,
Eu fechado num medo que enchia páginas de rimas até me
cansar,
Ainda hoje sonho com aquele quarto, dependente dos 150
euros,
Que trazia Marão abaixo, no bolso, uma vez por mês,
Nas noites em que a ressaca fermenta, regresso, sempre com
uma mulher
Diferente, das que nunca entraram naquele buraco de punheta
e tédio,
Ninguém sabe que estou ali, nunca, nem o senhorio,
Quem me pagará a renda agora, o quarto ao lado vazio,
Como estará hoje o fadista, que tanta guitarra tocou do
outro lado
Daquelas paredes finas, sempre cheias de amor e gemidos,
E depois lágrimas e mais um nome que não se ouve falar,
Nas paredes o ridículo de poemas e linhas a fazer das
mulheres
Onde queria fazer-me homem, como todos os que entravam
nelas,
Nunca fui tão só numa casa vazia, num quarto vazio.
07.05.2020
Turku
João Bosco da Silva
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