“SO YOU
WANT TO BE A WRITER?”
São já demasiadas as vezes em que me sento e espero,
Mais uma nuvem cobre o Sol, não suporto sequer o vento,
O verão parece nunca ter sido e ainda mal começou a Primavera,
Um buda que encontrou a eternidade numa pedra vulcânica
Troça do meu olhar no vazio que espera as palavras,
Tornou-se tudo tão inútil quanto ridículo, ou se esquece ou
se morre,
No fundo é tudo o mesmo, só a perdição salva, a certeza do Inverno,
Quantas cervejas me custam um verso, quantas recordações
Sacrifiquei por mais um poema quase vazio, também as flores
apodrecem,
As aves regressam, todas umas estranhas familiares,
Há lugares que não se sonham, como a Noruega, o teu abraço,
O quiosque da terra com o seu cheiro a jornal e eternidade,
Os dedos tocam incertos a vontade do espírito,
Ninguém acredita que um olhar cansado já viveu,
Por isso tudo continua com as mesmas certezas epicêntricas,
Sento-me e espero, outra vez, nem chove, mas tudo parece
cair,
Como pinga a cera de uma vela, fria, como esta época de
peste e medo.
Turku
20.05.2020
João Bosco da Silva
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