quinta-feira, 13 de agosto de 2020


Ezequiel

Tu, que há muito tens sofrido a violência do tempo no corpo inanimado,
Continuas a visitar-me em cada museu que visito, tu, cuja terra acima de ti
Não pode ser pisada sem constrangimento dos vivos, ainda hoje te vi, aqui,
Longe, quase no início dos tempos geológicos, quando há demasiado tempo
O teu próprio acabou, naquela obra de Gilbert & George, cristais de uma urina
Longínqua, como as quartas-feiras à tarde, em que baixavas a muralha de professor
E te tornavas num mestre, num amigo e me revelavas, a mim, um adolescente estúpido,
Afogado em dúvidas e exsudando certezas vazias, um mundo estranho e livre,
Hoje aqui, nesta cidade, vejo-te maior que qualquer tempo, não coubeste no mesquinho
Mundo a que chamamos nossa terra, quantas vezes foste troçado,
Ou tentaram humilhar-te, mas só se humilha quem engole, o artista cospe,
Tu, que habitas o mundo inteiro agora, sempre, meu querido professor.

Reiquiavique

11.08.2020

João Bosco da Silva

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