Aquela Puta Grega
Nunca me fingiu um orgasmo, a sinceridade é como um outono
que não acaba,
Agora dorme, se calhar, enquanto bebo mais um Campari com
sumo de laranja,
O Hemingway espera numa capa vermelha de 1958, não sei porque
esperei tanto
Pelos meus dezasseis anos, não sei porque não vivi mais os meus
únicos dezasseis anos,
A amiga da minha irmã com as pernas abertas na cama do meu
avô bêbado morto,
Agora ambos a olhar os meus dedos a tirar da cova mais uma
mão de terra em direção
Ao inferno, nos pêlos do meu mento a sua excitação viscosa e
adolescente,
E todas dormem de certeza, a não ser que um filho acorde, um
marido bêbado
Regresse com os dedos azedos e um hálito vermelho, ou já
esteja a ressonar
Há horas depois do último jogo de futebol ou de outra merda
qualquer
Que iluda como mais um orgasmo, não os nossos, esses estão
garantidos
Até nos sonhos, trocamos só a roupa interior, o hálito o
mesmo,
Nunca me fingiu um orgasmo, mesmo assim, diz que tenho um
caralho perfeito,
Contudo engulo um pouco mais de vitamina c e ecos de
escaravelho,
E choro, ressono, bato a porta com força sem querer e sonharei
com aquela puta grega.
Turku
09.10.2020
João Bosco da Silva
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