sexta-feira, 9 de outubro de 2020

 

“Morango do Nordeste”

 

Foi um verão de morangos e gazelas, eu um defunto do primeiro amor,

O ground zero ainda cinzas e gemidos, o amigo brasileiro nunca mais regressará

Depois de um inverno trasmontano, a lua nunca me pareceu tão cheia,

Logo este ano que já não tinha as piscinas pagas pela junta de freguesia,

Tinha que calhar ser filho de autoridade com todos os benefícios

De ser o único pobre salário numa família de quatro, foda-se,

Não bastaram os meus dois amigos com o mesmo nome, o filho

Do barão dos móveis carunchosos, ainda tinha que calhar o baterista

De uma banda nordestina do Brasil, mas era amor, era amor,

E o sonhador era eu, mesmo depois de me ter arrastado do sofá da sala

Para o quarto dela, para ouvir tudo menos aquela música de merda,

Hoje perguntam-me, mesmo enquanto calmamente leio sobre

Uma nova extinção, ou um atentado, ou a reeleição de um presidente,

E olho tudo como o vazio, porquê essa raiva dentro de ti,

Só consigo sorrir e pensar que os morangos que tenho no frigorífico já apodreceram.

 

09.10.2020

 

Turku

 

João Bosco da Silva

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