“Morango do Nordeste”
Foi um verão de morangos e gazelas, eu um defunto do
primeiro amor,
O ground zero ainda cinzas e gemidos, o amigo brasileiro
nunca mais regressará
Depois de um inverno trasmontano, a lua nunca me pareceu tão
cheia,
Logo este ano que já não tinha as piscinas pagas pela junta
de freguesia,
Tinha que calhar ser filho de autoridade com todos os
benefícios
De ser o único pobre salário numa família de quatro, foda-se,
Não bastaram os meus dois amigos com o mesmo nome, o filho
Do barão dos móveis carunchosos, ainda tinha que calhar o
baterista
De uma banda nordestina do Brasil, mas era amor, era amor,
E o sonhador era eu, mesmo depois de me ter arrastado do
sofá da sala
Para o quarto dela, para ouvir tudo menos aquela música de
merda,
Hoje perguntam-me, mesmo enquanto calmamente leio sobre
Uma nova extinção, ou um atentado, ou a reeleição de um
presidente,
E olho tudo como o vazio, porquê essa raiva dentro de ti,
Só consigo sorrir e pensar que os morangos que tenho no frigorífico
já apodreceram.
09.10.2020
Turku
João Bosco da Silva
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