quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

 

Figos Podres

para o tio Tagana,

 

Apodrecem os figos como o tanque debaixo da figueira,

Onde as vespas pairam sobre a água choca atraídas

Pelo cheiro doce da ruína, o fascínio do tio pelos postes de alta tensão,

Secou antes do último reboco, um glioblastoma que se multiplicou,

Enquanto os morangos se deixaram perder, por falta de uma mão

Que abrisse labirintos de agueiras, debaixo da figueira ainda o espaço

Da framboeseira, pé trazido de um planeta longínquo onde o tio

Deixou uma namorada francesa, que grande o mundo quando te desenhava

Num bocado de papel de um saco de ração para as galinhas,

Enquanto o teu irmão lavava as mãos no lavatório de esmalte na varanda,

As fitas da porta cagadas pelas moscas e pela distância,

Verões mais tarde, estranhas adolescentes na casa que mal chegaste a estrear

E eu como as vespas, voando sobre o cheiro húmido e doce da ruína.

 

Turku

 

06.01.2021

 

João Bosco da Silva

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