Figos Podres
para o tio Tagana,
Apodrecem os figos como o tanque debaixo da figueira,
Onde as vespas pairam sobre a água choca atraídas
Pelo cheiro doce da ruína, o fascínio do tio pelos postes de
alta tensão,
Secou antes do último reboco, um glioblastoma que se
multiplicou,
Enquanto os morangos se deixaram perder, por falta de uma mão
Que abrisse labirintos de agueiras, debaixo da figueira
ainda o espaço
Da framboeseira, pé trazido de um planeta longínquo onde o
tio
Deixou uma namorada francesa, que grande o mundo quando te
desenhava
Num bocado de papel de um saco de ração para as galinhas,
Enquanto o teu irmão lavava as mãos no lavatório de esmalte
na varanda,
As fitas da porta cagadas pelas moscas e pela distância,
Verões mais tarde, estranhas adolescentes na casa que mal
chegaste a estrear
E eu como as vespas, voando sobre o cheiro húmido e doce da
ruína.
Turku
06.01.2021
João Bosco da Silva
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