Chouriças para Lambões
E se vos fosseis todos foder, que tal, vós que nunca
tocastes os tomates
Do absoluto, tão cheios de palavras e de efemeridades,
barrigas cheias de nada,
E se fosseis todos limpar o plástico do rio, que foi
esquecido dos moranguinhos doces
Da aldeia abandonada que bem chupastes quando convinha,
Em Vilar de Ouro, vinho glorioso houvessem nomes de peso a
dar-lhe alma,
Noventa e nove diria o senhor Parker Jr. e se vos fosseis
foder,
Isto não é fácil com uma de André e duas de Bordeaux,
O Alexandre despertou agora todos os fãs do mundo quando há
dez mil geadas atrás,
Sentando num radiador eléctrico, líamos o Duende dado por um
velho amante,
Antes de subirmos o monte de São Brás, amante da irmã do
mestre,
Que hoje num sossego absoluto aparentemente, se resignou à
vida esperada,
Não a que lhe esperei, nunca se espera resignação de um
mestre,
Por isso continuo a engolir tinto muitos anos depois,
ficando surpreendido
Com um cu que se me abre quando me tinha prometido que
nunca,
Aquela ruiva, aquela ruiva, aquela ruiva, foram reais, até à
última gota,
Ou terão sido todas sonhos numa, numas noites vazias, que
triste agora, olhar os dedos,
Errar,
As teclas, estes mesmo merdas que limpam o cu, que se
meteram nas conas que desejaram
Um erro, porque sempre fui um erro, uma sardinha assada a
mais, um copo
De alvarinho minhoto a mais, mais valia ter-me levado o rio
mais os bonecos,
Valerá mesmo a pena mais uma manhã em direcção ao nada,
encher chouriças,
Será justo depois do amigo me esperar, para falarmos dos
filmes do Kubrick,
Ou do amadurecimento das cerejas, será justo, estar eu aqui
ainda a testar a resistência
Do fígado, a capacidade dos pulmões para o suspiro e a falta
de tomates para meter
Aquela lâmina japonesa nas tripas ou ao menos à moda
europeia nos pulsos,
Caralho, uma de champanhe e duas de bordeaux, ainda ninguém
se decidiu
A não ser a puta que nos leva todos os sonhos, continuo ao
olhar os dedos
Que escrevem isto, como se nos visse a entrar no restaurante
Barcarola,
Cada um uma francesinha, qual delas teremos que culpar, o
ridículo da vida,
Adormecer-me-ia agora com graça, cor-de-rosa, aquele tom de
loucura
Do Conde de Ferreira, quando tudo me alimentava a vontade,
Quando terminará este poema, ridículo, de saudades, de fim,
de chouriças para lambões.
Turku
João Bosco da Silva
19.10.2021
Saudades! Quero entrar no Barcarola com as mesmas companhias de aqueles tempos que a puta da vida nos roubou.
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