sábado, 12 de novembro de 2022

 

No Tempo em que se ia Cagar à Coelheira

 

Em casa da minha avó, cagava-se no baixo onde todos os coelhos

Com os olhos vermelhos por causa da escuridão,

Era igual, cozidos ou refogados, naqueles pratos de vidro

Com bolhinhas de um ar aprisionado doutros tempos,

Devem ter-se partido todos ao longo dos anos,

Aquele gosto a rato ou traves que apodrecem, aquela carne seca,

O molho escuro, coitado do coelhinho, tantos ossinhos,

Seguravam-se pelas patas traseiras e passava-se uma mão rápida

Pela nuca abaixo, um estremecer e muito bem meu filho,

Depois com as calças todas cagadas e a caminhada da vergonha

Da coelheira até casa, pela lama da rua fora, seu porco

Que cagaste no cansaço de uma mãe farta de gelar os dedos

No tanque, a lavar miniaturas de gente que não foi chamada

A este mundo por vontade, só desejo, cego, sardinhas assadas

E vinho verde, cagão, e o gosto pelo coelho a desaparecer,

Quando até gato bravo ia com gosto, a vergonha a temperar

Com nojo aquela carne, décadas mais tarde, em Malta

Uma tentativa de que se calhar, já passou, mas logo depois

Da primeira garfada, um garoto com o cu sujo ao léu,

Pelo lodo abaixo, a caminhar pela aldeia fora,

Em direção ao silêncio redentor de uma porta fechada.

 

Xlendi

 

02.11.2022

 

João Bosco da Silva

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