No Tempo em que se ia Cagar à Coelheira
Em casa da minha avó, cagava-se no baixo onde todos os
coelhos
Com os olhos vermelhos por causa da escuridão,
Era igual, cozidos ou refogados, naqueles pratos de vidro
Com bolhinhas de um ar aprisionado doutros tempos,
Devem ter-se partido todos ao longo dos anos,
Aquele gosto a rato ou traves que apodrecem, aquela carne
seca,
O molho escuro, coitado do coelhinho, tantos ossinhos,
Seguravam-se pelas patas traseiras e passava-se uma mão
rápida
Pela nuca abaixo, um estremecer e muito bem meu filho,
Depois com as calças todas cagadas e a caminhada da vergonha
Da coelheira até casa, pela lama da rua fora, seu porco
Que cagaste no cansaço de uma mãe farta de gelar os dedos
No tanque, a lavar miniaturas de gente que não foi chamada
A este mundo por vontade, só desejo, cego, sardinhas assadas
E vinho verde, cagão, e o gosto pelo coelho a desaparecer,
Quando até gato bravo ia com gosto, a vergonha a temperar
Com nojo aquela carne, décadas mais tarde, em Malta
Uma tentativa de que se calhar, já passou, mas logo depois
Da primeira garfada, um garoto com o cu sujo ao léu,
Pelo lodo abaixo, a caminhar pela aldeia fora,
Em direção ao silêncio redentor de uma porta fechada.
Xlendi
02.11.2022
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário