Engolir em Seco
Quem serás amanhã, quando acordares, meio confuso,
Completamente desidratado, entre dois morros
E a promessa do infinito reflectida numa água que espelhou
A visita de demasiadas civilizações extintas,
Serás tu uma sede, o desejo que não se acende nos olhos alheios
Ao verem o reflexo prateado da verdade numas têmporas
Distantes da frescura de uma vontade outrora indomável,
Terás talvez o eco da doçura deste dia, tornado no vinagre
Daquela esponja oferecida a Cristo, amanhã o crepúsculo
dourado
Será o ferro quente vertido na tua boca ressequida
De todas as sedes e pecados, as conas beiçudas que relembras
Enquanto a maresia te humedece as páginas na companhia
De um vinho tinto raro como ruim e o fumo de tabaco em
segunda mão,
Expirado pelos pulmões das espanholas da mesa ao lado.
Xlendi
02.11.2022
João Bosco da Silva
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