sábado, 12 de novembro de 2022

 

Engolir em Seco

 

Quem serás amanhã, quando acordares, meio confuso,

Completamente desidratado, entre dois morros

E a promessa do infinito reflectida numa água que espelhou

A visita de demasiadas civilizações extintas,

Serás tu uma sede, o desejo que não se acende nos olhos alheios

Ao verem o reflexo prateado da verdade numas têmporas

Distantes da frescura de uma vontade outrora indomável,

Terás talvez o eco da doçura deste dia, tornado no vinagre

Daquela esponja oferecida a Cristo, amanhã o crepúsculo dourado

Será o ferro quente vertido na tua boca ressequida

De todas as sedes e pecados, as conas beiçudas que relembras

Enquanto a maresia te humedece as páginas na companhia

De um vinho tinto raro como ruim e o fumo de tabaco em segunda mão,

Expirado pelos pulmões das espanholas da mesa ao lado.

 

Xlendi

 

02.11.2022

 

João Bosco da Silva

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