Algo sobre Pereira
Há um homem lá no bar
Sempre com um copo de vinho barato,
Sempre bêbado,
Com as suas galochas todas as estações,
Perdido em si mesmo,
Repetindo sempre o mesmo,
Vivendo os seus pesadelos em silêncio,
Gemendo por vezes,
Sujo, mas barbeado.
Às vezes dorme lá fora
Na rua,
No chão, só,
Como um cão sem dono,
Bêbado.
Há um homem que
Esteve na guerra, lutou pelo seu país,
Grande merda pelo que se lutar,
E agora o país
Vê-o como um bobo.
Jovens
Olham para ele como um velho brinquedo partido,
Pagam-lhe bebidas para o verem
Cair do banco,
Tiram-lhe o chapéu da cabeça,
Escondem-lhe a comida, os pertences,
E riem como se fosse a coisa mais engraçada.
Há um homem sem mulher,
Sem filhos, sem amigos verdadeiros,
Uma ruína, uma memória,
Longe do bar,
Longe dos jovens
À sua volta, à meia-noite.
Enquanto estes gajos se riem
Da miséria,
Os seus amigos fodem-lhes
As esposas,
As suas filhas chupam
Gaitas dentro de carros,
E podem até nem viver
Tanto quanto o velho viveu.
Há um homem lá no bar
Tão livre quanto o homem pode ser,
Sem nada a perder,
Nada a provar,
Perdido no seu próprio mundo
Porque o mundo exterior
Já o fodeu bastante.
B.
11/02/2011
Traduzido em 12/02/2023
Sem comentários:
Enviar um comentário