A Casa Que As Heras Esconderam
entre São Gregório e Pontes Barxas
Quase irreconhecível, com as suas paredes escondidas
Pelas heras do esquecimento, com o seu verde escuro e brilhante se sol,
Mas só o cinzento no céu a dizer que o ar húmido,
Quase à beira lagrimas, quase a fazer-me entrar pela porta entreaberta
De casa abandonada, com uma escuridão cor de pó no interior ,
À espera de ser redescoberta dentro, anos de distância que se acendem.
Anos de heras a esfarelar as paredes de granito,
Erguidas no tempo da ditadura e das fronteiras fechadas,
Como se as linhas dos mapas muros reais feitos por gente com línguas diferentes,
Com o mesmo ritmo dentro, quente, vermelho, orgânico e visceral.
Envelheceram, morreram, foram levados para longe do fim do mundo,
Os que ali viveram, antes do esquecimento cobrir aquelas paredes,
Com histórias de contrabandistas, noites longas entre dois mundos,
Que se encontraram para nunca mais.
Só o rumor do rio o mesmo, a vibrar também nas paredes,
Como ossos roídos pela osteoporose,
Com a rua lá fora cada vez mais estreita, agora que não há quem lhe dê passos
Na calçada a dizer que gente, que olhos nas janelas e olhos atrás das janelas,
Entre cortinas, hoje esquecidas do branco que foram, amarelecidas,
Pelo tempo e pelo esquecimento, à sombra das heras,
Que cobrem de verde com uma esperança irónica e inocente de natureza.
Só dentro as paredes limpas, se os olhos fechados,
Só dentro as vozes dos vizinhos, se só o rumor do rio que corre perto,
Tudo ecos de pedras que agora caídas, aleatórias e quase sem sentido,
Paredes cobertas pelo esquecimento.
31.03.2010
Savonlinna
João Bosco da Silva