quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

 

Bolsos Cheios de Seixos e Merda

 

Também é verdade que fui uma besta, engoli a hóstia

Quando convinha e tinha a alma limpa do Tide,

Batia punhetas atrás da antena da televisão que tinham instalado

Na escola primária, hoje em dia é uma moradia,

Cortaram as mimosas, não há ilusões de ascensão,

A estas horas todos tiveram que baptizar inocentes

Por causa de um pecado que ninguém cometeu,

Muitos foram os outros, tive gosto em tantos,

Aqueles em que entrava, me despedaçava todo,

Depois apanhavam um autocarro, diziam-se apaixonadas,

Eu fingia que os tomates vazios eram tudo,

Não eram, bem me lembro das rãs na primavera,

Da proximidade da ponte romana, aquele granito

Sempre me pareceu quente, mesmo tocando-o

Com dedos ébrios em Dezembro, ou de madrugada,

Antes do Sol ser a promessa de mais um aborrecimento,

Esta vida é uma confusão tamanha, meu amigo,

Ainda cá andamos perdidos, todos, mais aqueles

Que cheios de certezas e bolsos cheios de seixos e merda.

 

06.01.2022

 

Turku

 

João Bosco da Silva

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