Velas que Consomem Vazios
A vela consome-se na garrafa vazia, aos poucos, o copo,
Enfrentando a objectiva, torna-se mais útil para a próxima sede,
A árvore de natal obsoleta como as memórias de outros tempos,
Ridícula como a própria juventude de um velho que se agarra
Ao vazio das memórias e dos sonhos cujos ecos ainda persistem,
Foram muitos os verões, poucos os que valeram a pena,
E agora quê, como criar alguma beleza com um conjunto limitado
De palavras, a flexibilidade de um carrasco num dia de tempestade,
A memória que é o que cada um é, uma garrafa que persiste no copo,
Ainda, como se tudo fosse um nada e é, a chuva acaba, o sol regressa
E tudo parece tão ridículo, não fosse o punho de terra ainda na mão
E a cova aberta que espera, um último gesto que não fecha nada,
E a patética vela persiste, iluminando uma noite escura que ninguém
Quer relembrar, solitária, com garrafas vazias, copos já secos,
Sonhos esquecidos, amores amputados, só os pulmões mantêm
O automatismo que nos mantem vivos, para quê, a garrafa
Onde a vela se consome há muito que está vazia.
06/01/2022
Turku
João Bosco da Silva
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