quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

 

Velas que Consomem Vazios 

 

A vela consome-se na garrafa vazia, aos poucos, o copo, 

Enfrentando a objectiva, torna-se mais útil para a próxima sede, 

A árvore de natal obsoleta como as memórias de outros tempos, 

Ridícula como a própria juventude de um velho que se agarra 

Ao vazio das memórias e dos sonhos cujos ecos ainda persistem, 

Foram muitos os verões, poucos os que valeram a pena, 

E agora quê, como criar alguma beleza com um conjunto limitado 

De palavras, a flexibilidade de um carrasco num dia de tempestade, 

A memória que é o que cada um é, uma garrafa que persiste no copo, 

Ainda, como se tudo fosse um nada e é, a chuva acaba, o sol regressa 

E tudo parece tão ridículo, não fosse o punho de terra ainda na mão 

E a cova aberta que espera, um último gesto que não fecha nada, 

E a patética vela persiste, iluminando uma noite escura que ninguém 

Quer relembrar, solitária, com garrafas vazias, copos secos, 

Sonhos esquecidos, amores amputados, só os pulmões mantêm 

O automatismo que nos mantem vivos, para quê, a garrafa 

Onde a vela se consome há muito que está vazia. 

 

06/01/2022 

 

Turku 

 

João Bosco da Silva

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