Karate Kid
Levei porrada, sem a merecer, fui muitas vezes
O aluno novo, a escola é escola para tudo,
Nunca tive melhor lugar onde aprender crueldade,
Onde melhor se aprendeu a levar, quando a família
Um lugar de conforto, nem em casa se podia estar
Em paz, porque o senhorio uma besta incansável,
A minha paz um poço choco, tive ali o meu inferno,
No ensino obrigatório, ano após ano, novas vítimas,
Também eu fui uma besta quando me tornei demasiado
Familiar num lugar, isto depois de ter levado muito
Nas bentas, só hoje me apercebi da importância
Do Karate Kid, quando garotos engolimos
E nem imaginamos mais tarde de onde vêm certos amores,
Como a certas culturas, mas nunca tive um Mr. Miyagi,
Chovia e arrastavam-me paralelos fora, até as calças
Uma ruína, chovia e queriam lançar-me a uma fossa,
E o máximo que sabia de artes marciais era gritar
Como o Bruce Lee, os joelhos sangravam, mas tudo bem,
A água barrenta diluía o sangue, Okinawa um sonho,
Onde as tempestades tornavam o mundo justo para todos,
Agora bebo uma de Chianti, sangiovese puro e penso
No Daniel Larusso que fui no Minho, uma escola por ano,
Sem um sensei, levar e andar, crescer, mas agora,
Quase chegado aos quarenta, aqueles paralelos,
À chuva, continuam a abrir-me os joelhos.
Turku
06/01/2022
João Bosco da Silva
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