Coito Interrompido
A que me sabe agora o desespero daquele amor de adolescente,
Aos dezasseis anos, amaldiçoando o tecto de madeira,
Naquele quarto escuro, que era o mais ou menos quente da casa,
Pelo menos sentia-se o cheiro da lareira, que arrefecia,
Menos a humidade negra nas paredes brancas,
Chorava e erguia os punhos ao mesmo tecto inocente,
Os punhos frios, as lágrimas arrefecendo pela carne imaculada
Abaixo, nas orelhas bem apertados os fones e as músicas
Que se tornaram em mim, um beijo teria custado a vida,
Mas teria custado tanto, como o ódio aos dióspiros,
A vida uma tentativa ridícula em criar sentido num infinito
De variáveis incontroláveis, um cálculo impossível,
A certeza de uma dor maior que o colapso de uma estrela,
Num quarto pequeno, húmido, escuro e triste,
Num planeta abusado por seres pequenos e tristes,
Este desespero de amor adolescente, sabe-me agora
Ao vazio de todas as garrafas, a todas as vaginas
De onde removi o meu orgasmo, segundos antes
Para me verter num prazer de agonia e derrota.
Turku
06/01/2022
João Bosco da Silva
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