quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

 

Coito Interrompido

 

A que me sabe agora o desespero daquele amor de adolescente, 

Aos dezasseis anos, amaldiçoando o tecto de madeira, 

Naquele quarto escuro, que era o mais ou menos quente da casa, 

Pelo menos sentia-se o cheiro da lareira, que arrefecia, 

Menos a humidade negra nas paredes brancas, 

Chorava e erguia os punhos ao mesmo tecto inocente, 

Os punhos frios, as lágrimas arrefecendo pela carne imaculada 

Abaixo, nas orelhas bem apertados os fones e as músicas 

Que se tornaram em mim, um beijo teria custado a vida, 

Mas teria custado tanto, como o ódio aos dióspiros, 

A vida uma tentativa ridícula em criar sentido num infinito 

De variáveis incontroláveis, um cálculo impossível, 

A certeza de uma dor maior que o colapso de uma estrela, 

Num quarto pequeno, húmido, escuro e triste, 

Num planeta abusado por seres pequenos e tristes, 

Este desespero de amor adolescente, sabe-me agora 

Ao vazio de todas as garrafas, a todas as vaginas 

De onde removi o meu orgasmo, segundos antes 

Para me verter num prazer de agonia e derrota. 

 

 

Turku 

 

06/01/2022 

 

João Bosco da Silva

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