Entulho
Eu queria olhar os teus lábios e não pensar nas tuas palavras ridículas,
Deixar o lago da Sanabria gelar há décadas, continuar inocente
Ao lado dum cavalo qualquer, sentir-me perto de um deus
Que me diminuiu tantos anos, deixar arder tudo o resto,
As bandas desenhadas que me moldaram, não o barro, mas o lodo,
Porque se sou homem, sou feito da lama onde cagaram
As vacas e os burros a caminho dos estábulos, antes da geada imaculada,
Antes do adormecer dos avós ao regressarem da última poda
Aos castanheiros e colapsarem nas mãos sábias e impotentes das netas,
Eu queria olhar os teus lábios cheios de aves exóticas
E chamas que querias que queimassem o teu coração,
Mas não te dediques a voos se o que queres é encontrar entulho para poemas.
06/01/2022
Turku
João Bosco da Silva
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