quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Festa Dos Bombos (Ronco VIII)

Os bombos tentam calar-me, mas já não consigo ter paciência para o ritmo dos dedos,
As chamas aquecem apenas o olhar e os poetas todos, aposto que a estas horas
Bebem, cheiram-se todos e sãos os melhores amigos uns dos outros,
Vêm-se depois confessar aos padres miseráveis da periferia, afogados no tédio,
Em sofás esburacados pelo frio dos invernos demasiado inesperados todos os anos,
E é isto, peço desculpa pelos agradecimentos aos poetas, desculpem que não
Seja apenas carvão, ainda brasas, porra e isto nem queima, soprem cabrões,
Ao ritmo dos bombos, nas palhas, no Minho, na matança do porco, ou na Galiza,
É igual, não se usava gás, abria-se também o porco de outra forma,
Daí eu escrever tão aberto, o rasgo vai de cima até aos colhões do animal,
Era quase sempre porca, contudo, os anos oitenta ainda espreitavam
Nas farmácias e os iogurtes tinham uma forma de engate ultrapassado
Com bonecos unicolores, meu deus, que pretendo com isto,
Ultrapassar o Hércules pela Grécia fora, hoje não sei se venceria
Tanta cabeça de Hidra, os bombos não conseguem a ressonância
Precisa com as cinzas, então morre-se um pouco, a geada recebe de braços abertos.

19.02.2015

Turku


João Bosco da Silva

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