domingo, 24 de janeiro de 2010


Árvore de Natal

ao que está Longe.

Galhos como veias negras que se perdem
No vazio cinzento do céu de inverno,
Ao lado da casa de dois andares com o poço gelado,
Longe do frio que hoje me habita e não sou eu.
Não sei quem são os donos,
Mas pode ser que os conheça.
Não me conheço!

Sei que não gosto de dióspiros!
Comi um verde, certa vez,
No jardim do meu último amor
Que foi o primeiro e não gostei.
Passem-me uma lixa na boca!

Como uma árvore de Natal,
Com umas bolas laranja, simples, quase visceral,
Doce rudimentar para os meus olhos.
É bonito ver gente feliz dentro de uma casa iluminada e com uma lareira,
Acreditando que podia ser eu, que fui eu,
Aquele que vejo da rua onde habito,
De sorriso aberto ao vazio que ignora.
É bonito ver os outros apaixonados,
Enquanto caminho sem sentir mais que a minha dor do caminho.
É fácil ver nos outros, sem ter que o meter à boca.

Longe a casa que não sei de quem é,
Com o seu poço inútil, com a água estéril, congelada,
Com a sua árvore de Natal permanente...
Permanente até que se cansem de esperar os dentes da serra
Pendurada do lado esquerdo, na garagem, ao lado do carro,
Longe de mim, longe de quem deixei de ser e finge que continua.

As veias a levar o que alimentou os meus dedos,
Enterrando-se na terra onde sou o original,
Invertendo-me de forma desigual,
Alimentando os frutos solitários, sem folhas verdes,
Prontos para a boca que os apreciam,
Para os meus olhos que não os vêem,
Por que Longe.

18.12.2009

Savonlinna

João Bosco da Silva

Sem comentários:

Enviar um comentário