domingo, 24 de janeiro de 2010


Se

Se conseguisse lavar os meus pecados com palavras inúteis
E pudesse continuar a chamar poesia a isto,
A isto que não toca nem uma gota da sombra do abismo,
Onde a alma não ocupa espaço nenhum e aí vive.
Se conseguisse tocar a ignorância dos outros com a ignorância de mim mesmo,
Porque os fascino com tanta confusão ao dizer o meu nome,
Que ficam a olhar para mim a pensar que eu tanta coisa e eu...
Nem um nome, nem coisa nenhuma a não ser...
A não ser um pedaço de quase nada que se vai
Na ilusão de uma luz que não se sabe se chegou a ver-se,
Ao longe, lá onde a escuridão habita no horizonte das noites solitárias.
Se ao menos eu um nome, nascido de um nome,
Sem ter que criar nada à minha volta para impedir o vento de me derrubar,
Sempre a derrubar-me, sempre a impedir-me que tente,
Porque nem eu gosto de ser um derrotado,
Mesmo que o seja, derrotado adiado.
Se ao menos as fibras do meu coração fossem capazes de uma música
Que não lembre que um dia o silêncio, eternamente o silêncio,
Se ao menos o ar ficasse com o meu cheiro depois de eu expirar,
Se ao menos não fosse tão menos, quase nada, para que isto não fosse tão ridículo.
Se ao menos chamas neste inferno e outra dor menos real,
A consciência de que o pecado levou a isto,
Mas o que levou a isto que é pior que o sono eterno,
Antes de se conhecer que depois sono eterno, outra vez,
Só para provocar as pobres pedras que falam quando o vento passa.
Se ao menos o fim fosse tão fácil como uma palavra...

23.01.2010

Savonlinna

João Bosco da Silva

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