domingo, 24 de janeiro de 2010


Ode à Merda

É boa esta hora, é boa, muito boa!
É a hora que tenho, a hora que me resta,
Até às horas que as mãos nunca tocarão.
É boa, é, uma boa merda, é o que é.
Despejado, esquecido de que cano de esgotos,
De qual a sanita, de que cu de deus.
Eu, uma hora com corpo, uns sessenta relativos,
Um clarão de consciência inútil na noite universal.
Venham-me com horas boas, venham-me com momentos
Que fazem valer a pena e se vão cobardes,
Tornando-se pedras no saco da melancolia!
Venham-me com mais dessas mentiras contadas às crianças que procriam!
Mandem-me dessa merda à cara!
Pelo menos sente-se que é mentira, que é algo.
É hora é, é hora, mas já não é mais a mesma.
O tempo como uma puta que nem acaba de foder um cliente e já tem outro no cu,
Por todos os lados a entreter, a entreter, a consumir e mandar pelo cano dos esgotos
A merda sagrada dos deuses que somos nós,
Não deuses, a merda da sua impossibilidade,
Digeridos por uma imortalidade improvável,
Caídos num monte maior, sempre convencidos de que especiais,
De que únicos, com parte de um pedaço dentro que se confunde,
Dentro de outro pedaço parte que nos faz confundir...
Todos um grande pedaço de merda!
É boa hora é, uma hora para fingir de deus e cagar um poema.

13.11.2009

Savonlinna

João Bosco da Silva

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