domingo, 24 de janeiro de 2010




Sutura

ressaca de fim do mundo
cerveja da sede, a foda sem sede, que tivesse
só para entrar na ruiva quero dizer hoje
de onde saíu o filho ao chileno
nunca fui bom com números
sei lá o que este ano
mas não hoje
adormecer na pedra central do cemitério
sem conseguir
minha família como se um baptismo mais real e natural
fui salvo pelo marido da minha tia
lembro-me agora que será este ano
chorei lágrimas
faltava-lhe carne dentro
o filho do cantoneiro ensinou-lhe a catequese
que eu queria ter aprendido no adro
sem outros não há pecado
no palheiro do pai dela
nos hospitais com o seu cheiro a merda
comigo e o meu primo
sangue, urina doente, suor de febre e enfartes
entretanto torno-me bolo
o humor a adoçar-se no meu sangue
por fim algo no estômago que não me suporta
desinfectantes, antisépticos, antibióticos
medicamentos que cheiram sem nariz
se não dependêssemos do mundo deus não estaria morto
batas brancas lavadas com perfumes franceses
de cona aromatizada e de púbis bem aparada
garrafas de plástico vazias
e horas prolongadas
morte e familiares dela
branco de luto e brancos de luto, amarelo
como eu não suporto grandes comidas
dependemos do mundo para tudo e é triste
até o bolo me torna mais lúcido
o cérebro diluído com a cerveja
da noite anterior.



João Bosco da Silva

04.12.2009

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