domingo, 24 de janeiro de 2010


O Fim do Princípio


Ao meu avô Estevo


Começo e com isto condeno-me a mais um fim.

Anjos que caem como frangos depenados de patas abertas
Expondo o vazio para o ginecologista de cutelo.
Chuva pesada que espalha gordura divina
Nas rochas de granito sagradas que a chuva não apagou.

As nuvens incham, mulheres que se casam,
Mulheres que nunca se casaram,
Mulheres que foram visitadas
E lhes deixaram uma estranha presença familiar.

Tudo para cair.
Tudo para deixar de ser.
Tudo para se tornar a ausência do que se foi.

Pétalas de rosa podres com o seu cheiro a cemitério,
A cera de uma vela derramada sobre o mármore,
Sólida ejaculação de um deus de dor,
Presença impossível do que torna tudo ausência
Com o seu toque da vazio onde a alma deveria estar,
Caixão aberto fechado pelas lágrimas que cegam
E levam o que está, o que esteve...

Mais um fim que se torna real,
Deixando atrás de si o rasto de uma existência desnecessária.

21.11.2009

Savonlinna

João Bosco da Silva

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