O Fim do Princípio
Ao meu avô Estevo
Começo e com isto condeno-me a mais um fim.
Anjos que caem como frangos depenados de patas abertas
Expondo o vazio para o ginecologista de cutelo.
Chuva pesada que espalha gordura divina
Nas rochas de granito sagradas que a chuva não apagou.
As nuvens incham, mulheres que se casam,
Mulheres que nunca se casaram,
Mulheres que foram visitadas
E lhes deixaram uma estranha presença familiar.
Tudo para cair.
Tudo para deixar de ser.
Tudo para se tornar a ausência do que se foi.
Pétalas de rosa podres com o seu cheiro a cemitério,
A cera de uma vela derramada sobre o mármore,
Sólida ejaculação de um deus de dor,
Presença impossível do que torna tudo ausência
Com o seu toque da vazio onde a alma deveria estar,
Caixão aberto fechado pelas lágrimas que cegam
E levam o que está, o que esteve...
Mais um fim que se torna real,
Deixando atrás de si o rasto de uma existência desnecessária.
21.11.2009
Savonlinna
João Bosco da Silva
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